Entrevista com o jornalista Mílton Jung, da rádio CBN

A rádio CBN e o Radar Cultura são duas emissoras/projetos que mostram para onde devem caminhar as rádios no Brasil. Integração com outras mídias, transmissão pela internet e participação mais incisiva ainda dos ouvintes na produção do conteúdo.

Neste sentido, um dos profissionais que vem se destacando neste novo cenário das rádios é o jornalista Mílton Jung, que apresenta, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 12h, o programa CBN São Paulo, que conta com transmissão ao vivo pela internet.

O seu blog é utilizado para mostrar bastidores e receber críticas do programa e, de certa forma, o Flickr para mostrar alguns aspectos da cidade de São Paulo.

Recentemente, Jung passou a integrar o Twitter à rádio. No atual período eleitoral, por exemplo, os ouvintes podem fazer comentários e perguntas ao vivo via Twitter para os candidatos à prefeitura de São Paulo, que estão sendo entrevistados em seu programa.

Como a ferramenta de microblogging funciona como uma espécie de chat de bolso [no celular], as pessoas podem enviar perguntas e comentar o programa de qualquer lugar.

No bate-papo que tive por email com Jung e que segue abaixo, ele fala sobre as suas primeiras impressões sobre o Twitter, o que lhe acrescenta utilizar essas novas ferramentas de comunicação e para onde caminham as rádios nesta ambientação com a internet.


Em seu perfil no Twitter, Jung comenta bastidores e pede feedback dos ouvintes

1) Antes de tudo, gostaria que você se apresentasse ao público do blog.

Sou de Porto Alegre. E lá comecei a trabalhar. Estou em São Paulo, desde 1991, quando fui convidado para ser repórter da TV Globo. De rádio à internet, atuei em todas as redações. De âncora de telejornal à editor, atuei em todas as funções.

Estou na CBN desde 1998. Tenho dois livros na praça: Jornalismo de Rádio (Contexto) e Conte Sua História de São Paulo (Globo).

2) Como você conheceu o Twitter e qual foi a sua primeira impressão em relação à ferramenta?

A apresentação foi pelas páginas da revista MacMais (sou macmaníaco, pelo menos até onde meu conhecimento tecnológico permite). Desde lá tenho namorado a ferramenta, mas somente passei a me relacionar com ela há uma semana.

Ao se encerrar meu primeiro dia de twittagem só me restou olhar para a tela e dizer: “foi bom pra você”. Brincadeiras à parte, a primeira impressão que tive foi “puxa, é muito fácil mandar notícia por aqui”. A segunda, “será que alguém vai me seguir”.

3) Pelo que percebo, você vem utilizando o blog para falar dos bastidores da rádio. Como você utiliza o Twitter integrado ao blog e à rádio CBN? Partiu de você a idéia de usar o Twitter ou da direção da empresa?

A idéia foi por minha conta e risco. Coloquei no ar e só depois lembrei de avisar o pessoal da CBN. Eles curtiram de cara, ainda bem. Nem seria diferente, a CBN está muito interessada nesta interação com as novas tecnologias para ir onde os ouvintes estão. Não por acaso, investiu legal na cobertura da Campus Party, neste ano.

Minha idéia é deixar a pessoa ligada no programa e no Blog do Milton Jung o dia todo. Tanto é verdade que as mensagens podem chegar a qualquer momento, mesmo quando estou fora do ar (da rádio). Além de notícias, conto curiosidades dos bastidores: as tentativas da Fabiana Boa Sorte, a conversa paralela dos produtores e as boas tiradas do Paschoal Junior.

Nesta semana, fiquei sabendo de uma entrevista sobre blogs que seria feita pela Tânia Morales na CBN através do Twitter. Fui ouvir a entrevista, gostei e já repassei a pauta para colegas de outras emissoras.

Aliás, vou interromper aqui e escrever para os twitteiros: “Estou dando uma entrevista para o iG. Quando for publicada eu conto para todo mundo”.

De volta. O que quero mesmo do Twitter é aumentar a rede de relacionamento e “ouvir” o que as pessoas estão pensando sobre os diferentes assuntos da cidade. Quero encontrar novidades. Boas idéias. E pedir ajuda para elas, para que me ensinem a fazer um blog que interesse ao cidadão. E não apenas para satisfazer meu ego.


Twitter na rádio para adiantar assuntos aos ouvintes/usuários de internet

4) O que tem acrescentado a você como profissional, jornalista, utilizar o Twitter e o blog?

O Blog do Milton Jung e o Twitter têm me oferecido a oportunidade de exercitar a escrita. Adoro escrever, mas no rádio se tem pouco espaço para isto. Fala-se muito. E como se fala.

Mais do que isso, o blog, antes, e o Twitter, agora, têm me permitido implantar idéias que defendo desde muito tempo. No “Jornalismo de Rádio” já escrevia, há quatro ou cinco anos, sobre a necessidade de o rádio navegar na internet explorando todas as suas possibilidades.

Hoje, é com muito orgulho, que vejo uma repórter como a Cátia Toffoletto, ganhadora de prêmios internacionais, sair para rua e, além de entrar ao vivo na programação, gravar com seu telefone celular ou fotografar cenas da cidade para que a gente publique no blog. Ela, é bom lembrar, já tem até uma coluna no Blog do Milton Jung: O Canto da Cátia.

5) Quais novas tecnologias que você não utiliza, mas lhe atraem para um possível uso futuro?

Gostaria de saber mais, muito mais, de todas as ferramentas que nos são oferecidas. Por enquanto tenho um canivete suíço digital em mãos, mas mal sei usar o saca-rolha.

Seja no meu MacBookAir seja no meu blog, uso pouco das muitas chances que eles me proporcionam. Por isso, quero, principalmente, aprender mais do mesmo.

Com certeza, pretendo investir na imagem. Videocast, videoblog, ou seja lá o que for. Assim as pessoas vão descobrir que eu sou mais bonito que o Heródoto Barbeiro. (Grande vantagem !)


Em um cross-media constante, blog é utilizado para pautas e feedback

6) Você acredita que a internet deu nova vida às emissoras de rádio, no sentido de que, com as transmissões pela internet, elas puderam alcançar um público nunca antes imaginado? Você concorda com essa visão? Qual é o futuro da integração rádio/internet na sua opinião?

Alberto Dines, dos grandes mestres que temos a seguir, me disse há quatro ou cinco anos, que o rádio é a mídia do futuro. Concordei plenamente com ele.

Mas o rádio para sobreviver neste futuro tinha de migrar para a internet. Tinha de explorar estas oportunidades. Já é comum as pessoas ouvirem rádio no computador do trabalho ou de casa enquanto navegam na internet.

Temos de encarar o rádio na internet como um novo negócio. Não apenas algo bacaninha que os descolados estão fazendo.

Se em 1991, quando a CBN surgiu, seu grande passo foi levar jornalismo 24 horas para a FM, onde um novo público se formava, hoje o desafio é conquistar as pessoas que estão plugadas.

Para ler mais entrevistas, é só seguir a categoria entrevistas do blog.

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Como foi participar de um programa que mistura TV com Twitter

13 respostas para “Entrevista com o jornalista Mílton Jung, da rádio CBN”.

  1. Eu sempre acreditei no rádio e costumo ouvi-lo quando navego na internet. O rádio é o pioneiro na interatividade, mesmo ao seu modo e a integração com a internet só irá melhorar o veículo que continuar a ser tão eficiente que o telejornalismo. A mídia tradicional não irá morrer, basta integrá-la.

    P.s. Assistindo a polêmica da novela “A Favorita” dessa semana, eu comentei com minha irmã o quanto seria interessante para a Rede Globo e outras emissoras investirem em uma ferramenta bacana como o twitter. O público iria usar com tanta intensidade quanto na época da febre dos bate-papos.

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  2. Viva a convergência das mídias!

    Eu sou o blogueiro da entrevista com a Tânia a qual Mílton se referiu, ele acabou de confirmar o que eu suspeitava: descobriu a minha entrevista e o blog pelo twitter e não pela própria rádio onde trabalha.

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  3. Ao Dória, conforme havia escrito por e-mail: o Twitter ainda vai me deixar famoso. E você, também. Pois, assim que a reportagem foi publicada, recebi mensagem de uma editora que foi pautada pelo seu blog. Obrigado pelo espaço e parabéns pela edição.

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  4. Ao Rodrigo, esta grata surpresa:

    Hoje em dia, o blog que mantenho já é consultado por outras redações em busca de pauta, tanto quanto as mensagens trocadas pelo Twitter são inspiradoras.

    Ou olhamos para todas estas mídias, ou estaremos virando a cara para o cidadão.

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  5. A Najda,

    Outro mestre do jornalismo, Ricardo Noblat, disse no programa da Tânia Morales, da CBN, que o rádio é o veículo que mais se parece com o blog.

    Quem diria que tudo começou na cabeça de Marconi e Padre Landel de Moura

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  6. @Milton

    Que ótimo. Você merece esse reconhecimento. Parabéns!

    Obrigado!
    Abraços

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  7. excelente entrevista, Tiago.

    O @miltonjung tá dando um show de crossmedia.

    Vale notar como uma iniciativa simples e pessoal de boa utilização de redes sociais agrega valor para o veículo/marca CBN. Para mim a rádio se deferenciou no dial.

    Uma lição para empresas de todos os setores.

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  8. O Milton está sempre antenado com relação às novas tecnologias. Trabalhos (pouco) no Terra e tenho acompanhado a convergência da CBN, bastante boa.

    Sobre o microblog, aqui na Folha de S.Paulo a cobertura da Olimpíada ganhou um canal próprio, por acaso no Twitter: http://twitter.com/pequim_08

    abs
    ALEC

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  9. Obrigado, Alec. Não sabia desse twitter da Folha.

    abs

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  10. Valeu, Gustavo!

    abs

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  11. […] Aliás, você já reparou como projetos colaborativos ligados a rádios dão tão certo, aqui, no Brasil? Vide os caminhos trilhados pelo Radar Cultura e agora pela Rádio CBN. […]

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  12. […] Post relacionado: Entrevista com o jornalista Mílton Jung, da rádio CBN […]

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