Nossas pegadas valem ouro

Numerati adora números

As empresas de telefonia sabem onde estamos, à medida que navegamos na internet deixamos pegadas que dizem muito sobre nós, quando usamos o cartão de crédito nem se fala. Dessa forma Stephen Baker mostra em seu livro Numerati (256 páginas) o quanto a cada dia, sem perceber, alimentamos uma verdadeira mina de ouro de dados pessoais, onde em torno cresce uma lucrativa indústria que trabalha com os rastros que deixamos todo dia em vários lugares.

Lançado no Brasil neste ano pela editora ARX, Numerati revela o quanto esses nossos dados estão à mostra, prontos para serem utilizados e analisados por especialistas e empresas para prever o que queremos, em quem queremos votar ou até com quem queremos namorar.

Numerati, portanto, faz parte de uma série de livros que está saindo no mercado brasileiro sobre o tema. Click, de Bill Tancer, foi o primeiro, lançado mais no começo deste ano. Numerati é o mais recente.

Baker é um pouco mais crítico em relação ao assunto. Tancer é mais profundo no tema. Mas ambos convergem em um ponto. Por parte das empresas, a grande questão, hoje em dia, não é coletar esses dados sobre a gente, mas o que fazer com eles. Como utilizá-los de forma estratégica para a tomada de decisões. Os Numerati são os profissionais responsáveis por essa atividade, de transformar dados dispersos em conhecimento.

Stephen Baker

Quem são eles? Segundo Baker (foto acima), “são uma elite global de cientistas da computação e matemáticos que analisam todos os nossos movimentos. Eles vasculham montanhas de dados à procura dos nossos padrões de comportamento”. Onde estão? “Nas principais empresas de tecnologia – Google e IBM” para citar duas, atesta o jornalista. O que faz com que o livro de Baker sirva para alimentar as mais variadas “teorias da conspiração” da Era Google.

Para situar melhor o conceito por trás do livro, é importante mencionar que ele surgiu inspirado em um projeto piloto da IBM de monitorar as atividades de 300 mil funcionários e a partir dos dados sobre os seus movimentos criar um modelo matemático de cada funcionário, que serviria para a empresa escolher quais devem ser promovidos, remanejados ou até demitidos. Todos esse dados seriam recolhidos por meio de tecnologias de monitoramento que ajudariam a definir de forma minuciosa o nível de habilidade e produtividade de cada funcionário. Modelagem pura.

Piso inteligente

A parte do livro que mais prende a atenção é quando Baker discorre sobre o uso dessas tecnologias de monitoramento, de recolhimento de dados, na saúde pública. Cita um interessantíssimo projeto de um “piso inteligente” que registra a temperatura e o padrão de caminhada de uma pessoa.

Ou seja, literalmente, serve para monitorar os passos de qualquer um. Pode ser instalado em casas, lojas e hospitais. Ao ser utilizado ao lado de camas de pessoas idosas ou doentes, qualquer queda no chão seria logo detectada e um alerta enviado.

Baker segue no assunto e segura um pouco mais a atenção ao mostrar o que pode ser feito com a polêmica, mas nada fantasiosa, questão do uso de sensores eletrônicos, chips implantados em nossos corpos que poderiam monitorar a nossa temperatura, batidas do coração, respiração.

Com a ajuda dos Numerati esses sensores poderiam fornecer todos os dados vitais para prever enfermidades das mais simples, uma gripe, até mais complexas, um câncer. Ajudariam-nos a prevenir e a combater qualquer doença ao menor sintoma inicial. Qualquer coisa fora do normal seria avisada. O uso desses sensores poderia tornar-se até uma questão de saúde pública. O que faz Baker tomar a liberdade de deixar a pergunta no ar – e aquele que não aceitar ser monitorado, usar esses sensores, será considerado negligente?

Numerati

Do início ao fim, Numerati faz um registro de como vem acontecendo na prática essa modelagem matemática da humanidade. Das várias tentativas, bem sucedidas e mal sucedidas, de transformar os dados sobre nossos comportamentos em conhecimento, em informação estratégica. Isso em várias áreas – política, medicina, relacionamento e até segurança nacional (no combate ao “terrorismo”).

Apesar dessa divisão lógica de temas, a leitura pode ser decepcionante. No final das contas, Numerati é apenas uma versão maior de uma matéria de capa escrita por Baker para a Business Week. Matéria que ficou famosa na época. Em 2006.

Ademais, tudo é tratado de forma superficial. Por ser superficial, Baker é repetitivo em muitos momentos. É uma boa leitura, mas para quem quiser saber bem por cima como a matemática está se juntando a outras áreas e o quanto e como os dados coletados sobre a gente vêm sendo utilizados por pesquisadores, digo, pelos Numerati.

Crédito da imagem: One Good Bumble

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7 respostas para “Nossas pegadas valem ouro”.

    1. @Emerson Damasceno

      Obrigado, Emerson! Transparência é essencial não somente nos blogs, mas em tudo que envolva comunicação.

      abs

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  1. Oi. Legal esse post. Eu via sempre o livro com destaque nas livrarias daqui de Goiânia, mas pela capa, achava que era mais algum romance explorando a cybercultura. Agora fiquei com vontade de dar uma olhada mais atenta no conteúdo dele.
    Abraço.

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    1. @Márcio Leijoto

      É verdade, o título lembra um pouco.

      abs

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  2. muito bom o texto. serviu para despertar o meu interesse pelo assunto. e me estimular a escrever tão bem como você. jesus abençoe mais ainda sua vida.Obrigado!

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