Jornal bonito e provocador

O escritor americano Dave Eggers resolveu ir fundo na ideia de que os jornais impressos devem ser mais analíticos e deixar para a internet o noticiário mais imediatista.

Em dezembro, ele colocou nas ruas o San Francisco Panorama, jornal que, de início, chama a atenção pelo seu projeto gráfico, bem atraente.

Porém, o San Francisco Panorama vai além de um jornal bonitinho. A própria produção de conteúdo é diferente, deixa o imediatismo de lado em troca de textos mais analíticos e reportagens de fôlego. O visual acompanha esse conceito.

No final, a semelhança é com uma revista semanal.

É algo experimental, quase artesanal (o jornal teve uma única edição). Mais questiona do que soluciona alguma coisa. Tem um caráter provocador.

Em entrevista ao site de mídia MediaBistro, Eggers questiona a necessidade dos jornais impressos circularem todos os dias. É mais produtivo manter uma presença online diária e uma impressa uma ou três vezes por semana, com conteúdo mais analítico, diz.

E ainda pergunta como a mídia impressa pode ser mais atrativa, não sofrer de escassez de atenção. Para ele, é fornecer conteúdo original, textos mais aprofundados, além de um visual mais arrojado.

No entanto, isso é possível, claro, não circulando todos os dias. Mudando o próprio modo de produção de conteúdo.

Veja também:
Tecnologias para curar a escassez de atenção na mídia impressa

Crédito das fotos: Steve Rhodes

18 respostas para “Jornal bonito e provocador”.

  1. Muito interessante a proposta. Eu compraria esta revista.

    Curtir

  2. Pra mim, a tão aclamada salvação do jornalismo parte de algo assim, e não de leitores digitais! É como mostrar a excelência que o jornalismo pode mostrar em face da era das urgent news fúteis…

    Curtir

    1. @Voz do Além

      Não é à toa que já existem algumas pessoas questionando o porquê do fascínio pela velocidade na comunicação
      http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2009/11/22/por-uma-internet-em-tempo-giusto/

      Curtir

  3. Quando será que a impressa brasileira vai se atentar a isso e deixar o imediatismo para a internet e se dedicar a coberturas especias e de cunho analítico.

    A cobertura da tragpedia no Haiti mostra o quando isso é evidente, principalmente a importância do twitter e demais redes sociais e blogs.

    Curtir

  4. na onda do comportamento “slow”, o “slow news” é uma proposta interessante… não é concorrente direto de nenhum veículo, e não prejudica quem consome hard news como se tivesse bebendo água (na verdade, todos nós…), pelo contrário, mais do que complementa. e ainda me parece ser mais analítico e contestador que as revistas semanais, que já há muito tempo não estão exatamente cumprindo esse papel…

    Curtir

    1. @Paulissima @Geraldo França

      Acredito que o caminho seria o equilíbrio. Equacionar hardnews e reportagens de fôlego. Os dois se complementam.
      Existe muito hardnews e pouco material mais analítico, principalmente nesse tipo de cobertura (Haiti), há uma falta de algo mais aprofundado.

      Curtir

  5. Algo com uma revista “semanal” mais enxuta? Seria uma boa!

    Curtir

  6. Mais uma solução paliativa na minha opinião. De fato, é um jornal impresso muito bonito e, pelo que tenho lido das reações em blogs, o conteúdo parece realmente bastante interessante. No entanto, discordo do Eggers quando diz na entrevista ao MediaBistro que o Panorama faz “all the great things large-format newspapers can do that the Internet can’t”. Não há nada que o impresso possa fazer mais visual e analítico que o digital não possa. É tudo questão de formatação.

    Curtir

  7. Tiago, ótima matéria, como sempre. Se puder, dê uma olhada no artigo do John Nichols, na The Nation, How to Save Journalism (http://www.thenation.com/doc/20100125/nichols_mcchesney). À parte o conteúdo, a solução que deu para suas fotos me chamou a atenção. Estou sempre me confrontando com a dificuldade para fotografar jornais: uso uma câmera digital simples e ela automaticamente diminui a velocidade para compensar a luz, daí trechos ficam ilegíveis. Com o flash, `as vezes fica luz demais. Depois, recortar no Fotoshop, uma trabalheira, enfim.

    Curtir

    1. @Marcus Fidelis

      Obrigado, Marcus. Mas as fotos não são minhas. São do Steve Rhodes e foram tiradas com uma Nikon D40X
      http://www.flickr.com/cameras/nikon/d40x/

      abs

      Curtir

  8. O digital talvez sirva melhor ao imediatismo, como temos visto. Mas isto significa que não sirva (também melhor) ao conteúdo analítico?
    Em todas as abordagens de conteúdo que consigo imaginar o digital será capaz de superar o impresso (exemplo: agregar mais fotos, melhor qualidade de imagem, vídeo, animação, voz, continuidade, diálogo etc.)

    O pessoal que defende os bolsos (digo, o impresso) deve se concentrar no formato, melhor, na matéria-prima do formato. No papel. Coisas que o papel faz que o bit ainda não pode fazer. Como encher de areia, tatear, etc.

    Curtir

  9. […] Observer sempre foi dedicado a análises e matérias mais trabalhadas, algo próximo do idealizado São Francisco Panorama. Portanto, se vê no direito de destacar o seu papel de jornal mais análitico. O comercial segue […]

    Curtir

  10. O digital talvez sirva melhor ao imediatismo, como temos visto. Mas isto significa que não sirva (também melhor) ao conteúdo analítico?

    Curtir

    1. Sim, o digital também serve para conteúdo analítico. É só lembrar dos especiais multimídia do site da CNN ou do Clarin. http://edition.cnn.com/SPECIALS http://www.clarin.com/diario/especiales/

      Curtir

    2. Sim, o digital também serve para conteúdo analítico. É só lembrar dos especiais multimídia do site da CNN ou do Clarin. http://edition.cnn.com/SPECIALS http://www.clarin.com/diario/especiales/

      Curtir

  11. depois quando eu digo que o futuro do jornal é ser revista ninguem acredita em mim *rs

    Curtir

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados *