Parte do sucesso do Twitter é atribuído ao fato do site de microblogging ter uma API pública. Desse modo, desenvolvedores independentes, não ligados ao Twitter, podem criar aplicativos em torno do site e “tapar buracos” da ferramenta.
O Twitter não tem um aplicativo para desktop? Desenvolvedores independentes produziram vários para todos os tipos de públicos – Tweetdeck, Echofon, Brizzly. O Twitter não tem um encurtador de urls? Desenvolvedores externos criaram alguns – Bit.ly, migre.me, tinyurl. Não é possível enviar fotos pelo Twitter? Mais um desenvolvedor foi lá e colocou no ar o Twitpic.
Enfim, com o tempo e em grande parte, esses desenvolvedores “taparam buracos” do Twitter, o tornaram mais útil e eficiente. Com isso, criou-se um “ecossistema” em torno do mesmo – com o Twitter no centro e vários aplicativos (mais de 70.000) ao redor – encurtadores de url, buscadores, aplicativos para celular, todos complementando o site de microblogging.
Na semana passada, o Twitter comprou um desses aplicativos – o Tweetie, que permite “tuitar” do iPhone. Passará a ser o aplicativo oficial do Twitter para o iPhone e totalmente gratuito (antes contava com uma versão paga de US$ 2.99).
Para o Twitter, a compra foi um bom negócio. O Tweetie era uma ferramenta não oficial e que agora foi incorporada ao serviço de microblogging, que economizou um bocado de tempo (energia e foco) em pesquisa para desenvolver um aplicativo para o iPhone. Enquanto o Twitter se focava no “twitter.com“, desenvolvedores independentes criaram o Tweetie. De forma pragmática, é mais ou menos assim que funciona essa questão de APIs públicas e desenvolvedores externos.
O problema nessa história toda é que, na semana passada, Fred Wilson, investidor do Twitter, publicou um post afirmando que os tempos mudaram. Desenvolvedores que querem se ligar ao “ecossistema” do Twitter devem olhar além de encurtadores de urls e aplicativos para celular. Devem pensar maior – criar social games, serviços de estatísticas para o Twitter.
Esse post somado à compra do Tweetie e ao lançamento de um aplicativo oficial para Blackberry criou uma percepção de que o Twitter vai “dar um chapéu” em seu “ecossistema”.
Simplesmente começará a tapar os seus buracos por conta própria (por assim dizer) e, como consequência, dispensará parte do trabalho e esforço dos desenvolvedores externos, que criaram parte desses 70.000 aplicativos.
Em outras palavras, o Twitter vai começar a desenvolver o seu próprio encurtador de url, funcionalidade para postar fotos, aplicativos para celular, o que gerou uma certa revolta por parte de desenvolvedores. A chiadeira é grande. Foi criada a hashtag #unionoftwitterapps.
Segundo o investidor Mark Suster, a intenção do serviço de microblogging é controlar melhor a “experiência” do usuário com o Twitter. Quanto mais pessoas utilizam aplicativos para acessar o Twitter, a relação entre o usuário e o serviço de microblogging fica ainda mais dividida entre a empresa que gerencia o aplicativo e o Twitter. Isso não é nada bom para quem pretende ter receita com publicidade. Como o Twitter poderá oferecer anúncios se ele não controla o ambiente onde o seu conteúdo é consumido?, questiona.
Loic Le Meur, criador do Seesmic, aplicativo que funciona integrado ao serviço de microblogging, comenta que isso naturalmente aconteceria e lembra que nenhum desenvolvedor deve ficar preso ou dependente de uma única plataforma, no caso o Twitter.
Nesta semana, nos dias 14 e 15 de abril, o Twitter fará um encontro com desenvolvedores. É bem provável que esse imbróglio monopolize as discussões do evento.
Você deve estar se perguntando por que vale acompanhar toda essa novela Twitter vs desenvolvedores? Vale acompanhar por que é um caminho cada vez mais comum plataformas de mídia voltadas para usuários finais criarem “ecossistemas” em torno de suas operações.
Guardian, NYTimes e BBC, publicações que se tornaram plataformas, seguem pelo mesmo caminho, dando acesso aberto às suas APIs e, em torno de seus produtos, incentivando a criação de “ecossistemas”, que estão numa fase bem inicial.
Talvez não saiam disso (sem consultar o Google, você consegue se lembrar de algum aplicativo realmente interessante que foi criado em torno do NYTimes?). Porém, caso o negócio avance, bem provável que enfrentarão os mesmos dilemas atuais pelos quais o Twitter está passando.
Crédito da foto: Twitter Office (1).
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