Para muito além da comunicação escrita na web

O NYTimes publicou uma matéria sobre um certo legado que o semimorto Chatroulette está deixando. Para quem não se lembra, Chatroulette é um serviço de videochat no qual você tem a possibilidade de se encontrar de forma aleatória com qualquer pessoa.

No começo do ano, fez bastante sucesso, porém logo foi tomado por pornografia, o que acabou espantando muita gente. Perto do sucesso inicial, hoje a audiência está quase no chinelo.

A própria ideia do Chatroulette é de difícil aceitação. O site nos tira da zona de conforto. Somos acostumados a socializar somente com alguém que conhecemos ou que temos algo em comum. No Chatroulette, você está aberto a interagir e ser observado por qualquer um.

A rápida ascensão e a posterior e acelerada queda do Chatroulette deixam várias lições – a de que, em um ambiente interativo e anônimo, se você não sugere um assunto para as pessoas conversarem, elas acabam falando sobre “amenidades”. Ou ainda, de que, em plataformas de comunicação, é necessário manter o mínimo de identidade entre os participantes.

Segundo o NYTimes, diversos serviços estão sendo criados a partir dos erros e acertos do Chatroulette, que foi desenvolvido por um russo de apenas 17 anos.

O vChatter, por exemplo, segue a mesma ideia do Chatroulette, porém exige que os usuários utilizem o login do Facebook como um método de identificação.

Ninguém é totalmente anônimo no vChatter.

Para mim, o Chatroulette e todos os seus descendentes são um pequeno reflexo de algo sutil, mas importante. A migração na internet da comunicação escrita para a audiovisual.

Por muito anos, a internet foi calcada na comunicação escrita (email, messenger, scraps). Isso acontecia por causa de uma restrição tecnológica. Era difícil se comunicar por meio de voz e vídeo. Algo que vem sendo amenizado com o crescimento da banda larga.

Nos últimos tempos, a comunicação via internet está se tornando mais audiovisual. O que vai ao encontro do próprio motivo pelo qual a internet surgiu. Ser uma plataforma de comunicação e de distribuição de conteúdo que abrigue vários formatos ao mesmo tempo – texto, vídeo, voz e foto.

Essa migração da escrita para outras formas de comunicação na internet, de certa forma, se reflete no Brasil. Dois dos últimos talentos revelados na web em 2010 – PC Siqueira e Felipe Neto – não vêm da escrita (blogs), mas do vídeo.

Acima de tudo, as pessoas utilizam a internet para se comunicar, o que, cada vez mais, pode ser feito por meio de todos os formatos possíveis (texto, voz, vídeo), ajudando a reforçar a internet como a principal plataforma de comunicação de nossos tempos.

Veja também: Geração que quer clicar no botão de play e não de download

Crédito das fotos: Stewf e Presta

15 respostas para “Para muito além da comunicação escrita na web”.

  1. Não acho que Chatroulette e outros vão passar de mera curiosidade. A maioria das pessoas quer interajir, mas não quer ser alvo de intereção. Veja o que o ocorre no twitcam.

    Quanto ao Felipe Neto veio do mundo dos blogs e já tinha uma certa fama sim. O endereço http://controleremoto.tv/blog/ foi apagado, mas com relativa facilidade podem ser encontradas blogagens sobre as sandices que ele escrevia na época e que continua no Youtube. Não mudou em nada, exceto que devido a popularidade do video que seu texto fala ele se tornou mais popular. Enfim, provavelmente se deve achar algum texto do próprio Felipe no webarchive e assemelhados. Quanto ao talento, aí é a opinião de cada um 🙂

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  2. Bravo, Tiago: desde meu livro de 2006, por exemplo, bato nesta tecla – e por isso o título 'Webwriting – Redação & Informação para a Web'. Bem sabemos que informação vai muito além de texto, em especial na rede; ela é (como você disse) ícone, infográfico, ilustração, vídeo, áudio. O Gestor da Informação Digital deve entender que ele precisa aprender a lidar com estes formatos – o que vai muito além de saber mexer com ferramentas, visão simplista do assunto – para não ficar fora do mercado. Fiz questão de incluir esta questão quando produzi 'Padrões Brasil e-Gov: Cartilha de Redação Web' para o Governo Federal, este ano. Mais uma vez, excelente post, Tiago. Sugiro uma parte 2, inclusive.

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  3. Thiago e como vc acha que essa evolução do texto para o visual vai afetar ferramentas como o msn?

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    1. Acho que vídeo e voz serão melhor agregados ao msn.

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    2. Talvez não afete nada, tudo depende da estratégia da Microsoft.
      De repente, voz e vídeo serão melhor agregados ao MSN.

      Quem está fazendo algo interessante é a Mozilla, do navegador Firefox. Em breve será possível gravar voz e vídeo por meio do navegador. http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2010/10/29/firefo

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  4. Só botar um pingo no i. Esses 2 caras aí que sao fenomenos nao sao bons. Sao chatos e falam de assuntos bobos com linguagem infantil e sem profundidade. Pode ser que no futuro tenha alguem nesse tipo de interação com alguma inteligencia, mas ainda não, linguagem escrita ta ganhando.

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  5. Falando de maneira muito rasteira, essa idéia de falar com qualquer desconhecido aleatóriamente via internet nunca me agradou. É preciso o mínimo de empatia, na minha opinião, ou pelo menos um interesse em comum. Ainda prefiro arriscar a conversa jogada fora ao vivo, nos botecos da vida real. Sem o risco de ninguém aparecer fazendo pirocóptero na minha frente.

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  6. Boa pergunta Glaucio Amaral tbm fikei curioso pra saber ???

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  7. Eu também não acho que o text vai ser extinto. Sempre vão sobrar os mais old school que preferem digitar e poder rever o que falaram. Digitando você tem a segunda chance ao conversar com alguém, que não tem na vida real. hahaha

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    1. O post não diz que o texto será extinto. Na verdade, é uma expansão da comunicação.
      Aliás, acho que a comunicação escrita será central.

      Na maioria das situações, é bem mais fácil e imediato do que utilizar vídeo e voz.

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  8. […] Essa visão de Pariser não tira a importância de Facebook e Google. Pelo contrário, ao revelar o poder que essas empresas têm em moldar a nossa identidade, mostra que elas e outros pioneiros conseguiram o que queriam – transformar a internet na principal plataforma de comunicação do nosso tempo. […]

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  11. […] a aquisição indica algo em um contexto maior, é que a web está cada vez mais visual e mobile. Não somente a popularização e posterior compra do Instagram mostra isso, mas o […]

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