Apple, Google, Facebook, Amazon têm se tornado pesos tão pesados da internet que até receberam o apelido de “Gang of Four“. Duas delas ganharam a forma verbal – “googlar” ou “facebookar” (pouco usado aqui, mas bastante lá fora).
A Apple com sua postura “device agnostic“, o Facebook tornando-se um importante utilitário de comunicação, a Google tentando gerenciar os bits da web e a Amazon misturando data mining, marketing e varejo. Cada empresa encontrou o seu caminho para arrebanhar consumidores e parceiros.
Para Phil Simon, escritor e pesquisador de gestão de tecnologias, a presença desse quarteto em nossas vidas será cada vez mais perene. O “overwhelmed consumer factor” joga a favor delas.
Cada vez mais, as pessoas estão ocupadas e entupidas de informações, não tendo tempo nem paciência para mudar da plataforma habitualmente utilizada e que lhe é eficiente. Por si só, essas empresas já dificultam a vida de quem deseja mudar de plataforma (o Facebook, por exemplo, não permite que você exporte dados pessoais), porém, progressivamente, o usuário está cansado.
Mudar de plataforma de rede social ou de dispositivo é cada vez mais parecido com trocar de banco. Você leva mais em consideração não o que o outro banco oferece, mas sim os fatores tempo e energia que serão necessários para fazer a mudança.
Um cenário meio que esperado. Na medida em que as pessoas buscam segurança e facilidade, é natural que elas se unam e permaneçam ao que já é conhecido.
Segundo Simon, Apple, Google, Facebook e Amazon mais acertam do que erram. Souberam se aproveitar do efeito de rede (quanto mais um serviço é utilizado, mais valor há em usá-lo), tratam a área de TI não como um setor operacional, mas sim estratégico, e entenderam que, na área de tecnologia, mais importante do que ser o primeiro no mercado, é ser o pioneiro no mercado de massa.
Contudo, em seu último livro – The Age of the platform (302 páginas/Editora Motion Publishing), o pesquisador garante que existe uma jogada maior – são empresas que souberam tratar o modelo de plataforma como um meio de fazer negócios.
Por plataforma entenda-se como um “ecossistema que, de forma ágil, é capaz de escalonar, se transformar e incorporar novos recursos, algo que atende não somente consumidores, mas também parceiros e fornecedores, abrindo espaço para a colaboração de terceiros” (Simon utiliza o conceito de plataforma não no sentido tecnológico, mas sim no de negócios, contudo, no final das contas, o autor acaba embananando tudo no livro).
Para Simon, esse modelo é matador hoje em dia, não somente porque ele trabalha com a ideia de negócio em rede, mas pelo motivo de que cria interoperabilidade, integração e conveniência entre produtos da mesma empresa, benefícios que os consumidores mais exigem.
Ao adotarem o modelo de plataforma, Apple, Google, Amazon e Facebook construíram poderosas barreiras para novos entrantes no mercado e não apenas redes de parceiros e consumidores.
Na prática, cada empresa encontrou uma forma própria de criar a sua plataforma. A Amazon a desenvolveu por meio de seu pioneiro programa de afiliados e das bases de dados abertas para terceiros, além de seu projeto que dava às pessoas o poder de publicar seus próprios livros. Em pouco tempo, a Amazon estava cheia de pessoas penduradas em sua plataforma.
Para Simon, Bezos entendeu o recado. Hoje um negócio não é unidirecional, mas multidirecional, envolvendo parceiros, consumidores e usuários. Todos ganham.

A Google, por sua vez, tornou-se uma plataforma a partir do ano 2.000, quando começou a oferecer diversos serviços e produtos além da busca. Sergey Brin e Larry Page, cofundadores da Google, perceberam que a empresa somente poderia se tornar uma instituição quando deixasse de ter apenas um produto.
Hoje, a plataforma da Google é tão grande que você não sabe mais se a empresa é de busca, mídia, tecnologia, telecom ou tudo isso junto.
Um dos capítulos mais importantes para a Google foi o lançamento do Adsense. A rede de anúncio não é unicamente uma fonte de receita, mas de dados sobre diversos sites. Semântica pura.
É a mesma jogada do botão curtir do Facebook. É uma fonte quase que infinita de dados sobre as preferências dos usuários. Informações estas que depois ajudarão a fortalecer os anunciantes, clientes principais da plataforma de rede social.
Por outro lado, a Apple apoiou a construção de sua plataforma no uso de bibliotecas abertas de dados (APIs). Na empresa, as APIs democratizaram e aceleraram a inovação e o desenvolvimento. Por meio delas, milhares de desenvolvedores puderam criar aplicativos em torno dos produtos da Apple.
O efeito de rede também fortaleceu como plataforma a empresa cofundada por Steve Jobs. Quanto mais pessoas compram e usam iPhones e iPads, mais aplicativos e conteúdo são criados para esses dispositivos, o que, por sua vez, faz com que mais usuários os utilizem.
Ao analisar as quatro empresas, Simon dá um apanhado de algumas características do atual mercado de tecnologias emergentes. Diferente de outras empresas de tecnologia, Apple, Google, Amazon e Facebook não fazem uma distinção cerrada entre usuários (pessoas que usam e não pagam pelo serviço) e consumidores (pessoas que pagam e usam os serviços). Usuários podem ser convertidos em consumidores; além disso, mesmo que não paguem para usar os serviços, usuários geralmente são evangelistas da empresa e podem contribuir para o boca a boca na web.
Outra questão é o ambiente de “coopetição” (cooperação + competição) e não de competição simplesmente em que essas empresas trabalham. Em algumas questões elas competem. Em outras, são parceiras. A própria região onde estão as matrizes dessas organizações facilita isso.
Quem já foi ao Vale do Silício sabe que é comum ver um engenheiro da Google tomando um café com outro do Facebook. Existe uma rede informal de informações bem ativa entre as empresas do “Gang of Four“. Enfim, dinâmica bem comum em locais que são clusters de empresas, como o Vale do Silício na Califórnia.
Empresas que sabem fazer os clientes assumirem novas funções e trabalharem por elas não é nenhuma novidade. O McDonald`s, por exemplo, fez com que o cliente virasse garçom. Na rede de fast-food, quem faz o serviço de mesa, serve e retira os alimentos da mesa, é o próprio cliente.
No entanto, os pesos-pesados da internet sabem realizar isso como ninguém, segundo Simon. Ao fazer o upload e colocar tags nas fotos no Facebook, as pessoas estão, na realidade, organizando o conteúdo da plataforma de rede social
No YouTube, da Google, quem mais produz o conteúdo não é o YouTube, mas sim os usuários. Quem clica nos anúncios, assiste e organiza o conteúdo do YouTube também não é o YouTube, contudo, uma vez mais, os usuários.
Porém, nem tudo são oportunidades na “Era das plataformas”. Há riscos. A linha entre parceiro e competidor é muito tênue. De uma hora para outra, quem antes era parceiro pode se tornar competidor. Vida a Zynga que ameaçou sair do Facebook. E a Google que, ao comprar a Motorola, passou de parceira a competidora da Samsung na área de mobile.
Fora isso, juntar vários produtos, expectativas e experiências de uso em uma única interface e plataforma é um caminho difícil, arriscado e trabalhoso. Vide os problemas que o Facebook está passando com a experiência de uso da rede e o trabalho que a Google está tendo para acertar o ponto da sua “Google Bar“, que tem o objetivo de criar uma experiência consistente entre os produtos da empresa de busca.
“The Age of the Platform” tem pontos altos e baixos. Um dos altos está em amadurecer o debate sobre muita coisa que é vendida como solução no mercado. Por exemplo, na realidade, fornecer dados e recursos via APIs não é ponto de partida, mas consequência de uma estratégia.
Em uma época em que diversas empresas, principalmente as de conteúdo jornalístico, trocam as mãos pelos pés, liberando os seus dados via API sem ter uma cultura para tal, as palavras de Simon fazem o devido contraponto.
O ponto baixo do livro é que ele foi feito com base em informações de terceiros. O autor utiliza como referência textos em blogs e artigos publicados em revistas. Ler todas essas referências com contexto e de forma não-fragmentada tem um outro efeito. Contudo, fica um gosto de conteúdo requentado.
Livros sobre Apple, Google, Facebook e Amazon já foram publicados aos montes. O grande mérito de “The Age of the Platform” é analisar esse quarteto de empresas do ponto de vista do ecossistema que elas criaram em torno delas.
Veja também: Confessionário de um Xoogler
Crédito das fotos: Chris Photo (3), Yaigo (5)






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