Estamos entrando numa “era de gadgets mais simples”? Nesta sexta-feira, encerrou-se a edição 2012 da CES, feira de eletrônicos que acontece todo ano em Las Vegas, nos EUA.
A CES é o primeiro evento do calendário do noticiário de tecnologia e também um dos que mais divide opiniões.
Neste ano, a feira foi atropelada por uma locomotiva de críticas: a CES é palco para vaporware (anúncios de produtos que nunca serão lançados), empresas estão lá somente para testar protótipos. Repetitiva, a feira perdeu a sua importância.
Nem pouco nem muito. Realmente, nos últimos anos, a CES vem perdendo o seu impacto. Esperar um ano inteiro para apresentar um produto, numa feira lotada de concorrentes disputando a atenção, não faz muito sentido numa época em que é possível montar uma transmissão ao vivo, um bom site de produto e o contato com blogs para, em qualquer época do ano, fazer “um evento de lançamento de produto”.
A Apple já adota essa tática há algum tempo, não espera feiras gigantes de tecnologia para lançar novos produtos.
Contudo, isso não quer dizer que a CES não tenha relevância. É um evento que reúne em um único espaço diversos protagonistas do mercado de eletrônicos. Para alguns executivos, é um momento de fechar negócios. Para as empresas, oportunidade de atrair mais investimentos por meio dos produtos-conceitos apresentados. Vários debates sobre o futuro da TV e dos computadores ganham destaque na feira.
Além disso, é um momento para pequenas empresas que, geralmente, não conseguem atrair a atenção da imprensa. Neste ano mesmo, empresas pequenas de eletrônicos, como Goal Zero e ShoDoog, aproveitaram a CES para mostrar seus produtos.
O que ficou evidente neste ano foi uma movimentação da indústria para produzir gadgets mais simples e menos complicados. Botões e comandos por texto dão lugar a comandos intuitivos de voz e gestos.
Em entrevista à Technology Review, publicação do MIT, Shawn DuBravac, economista-chefe da CES, já adiantava que, em 2012, a feira de eletrônicos seria sobre “user interface.”
Não é à toa, portanto, que as interfaces controladas por voz e gestos roubaram a cena no evento. Elas foram apresentadas embarcadas em aparelhos de TV.
Como toda tecnologia emergente, esse tipo de TV tem alto custo e ainda é pouco funcional, conforme mostra este vídeo feito pelo pessoal do blog The Verge. A TV demora diversas vezes nas respostas aos comandos de voz. Mude de canal. E ela demora alguns segundos para mudar.
Apesar do custo ainda alto, esse tipo de tecnologia – dispositivos comandados por voz – tem um forte apelo nos países emergentes, onde ainda há um alto índice de analfabetismo.
Para quem não sabe ler e escrever, ter que usar interfaces que exigem comandos de texto e botões com números é uma lição de casa difícil.
Para se ter uma ideia, a tecnologia de biometria encontrou terreno fértil na rede bancária do México, onde, em regiões mais pobres, as pessoas têm dificuldade de se lembrar da senha de letras e números em caixas eletrônicos.
Um caminho natural. Muitas tecnologias consideradas “imaturas” no topo da pirâmide encontram aplicação em sua base, nos países emergentes.
Por isso… o discurso da CES é para o público americano. Mas talvez muito do que foi mostrado neste ano (interfaces controladas por voz e gestos) vá mesmo é para o lado dos emergentes.
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Crédito das fotos: Shigeta

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