O Microsoft Surface, tablet da Microsoft anunciado nesta segunda-feira, não fará a empresa cofundada por Bill Gates resgatar a aura cool que teve no passado (nos anos 80/90, trabalhar na Microsoft era como, hoje em dia, prestar serviços para alguma startup – você estava quebrando tabus e abraçando o inovador).
Contudo, mostra que, estrategicamente, a Microsoft está se preparando para uma internet/computação cada vez mais onipresente. O futuro não estará nos celulares, mas numa internet “device agnostic” cada vez mais presente em dispositivos e objetos – TVs, carros, celulares, roupas, laptops, tablets, mobília.
Hoje a Microsoft é uma empresa em transição.
Ray Ozzie, o substituto de Bill Gates, ao sair da empresa em 2010, disse, em uma carta aberta, que a Microsoft deveria se preparar para a chamada Era Pós-PC, um mundo onde a internet e a computação não seriam mais monopolizadas pelo desktop, mas estariam embutidas em diversos aparelhos e objetos.
Hoje a grande batalha é pelo domínio desse cenário. Do quarteto de empresas – Apple, Facebook, Google e Microsoft -, possivelmente a Apple seja a que está mais preparada para essa internet onipresente. Aliás, foi ela que efetivamente trouxe a internet para o celular.
O lançamento do Surface quebra uma tradição na Microsoft. Desde 1981, quando foi lançado o primeiro PC IBM, a empresa se focou em desenvolver e licenciar software. Hardware ficava nas mãos de parceiros (HP, Dell, IBM).
A estratégia foi campeã. Colocou a Microsoft à frente da revolução dos computadores pessoais (desktop) nos anos 90.
Isso mudou com o lançamento do Xbox, em 2001. Tanto o software quanto o hardware da plataforma de games passaram a ser controlados pela Microsoft. A dinâmica deu certo. Em pouco tempo, o Xbox virou a menina dos olhos de ouro. Hoje a divisão da plataforma de games responde por grande parte do aumento da receita total da Microsoft e por colocar a empresa em um dos lugares onde até hoje as pessoas mais passam tempo consumindo produtos e serviços digitais: em frente à TV.
No Surface, o cenário é parecido. A Microsoft tanto fabricará o software (Windows 8) quanto o hardware. Ou seja, controlará toda a experiência de uso do produto.
Bem provável que esteja querendo evitar o erro do Zune. A empresa distribui o software do player/loja de música, mas pouquíssimos parceiros de hardware conseguiram concorrer com o iPod, da Apple.
A Microsoft está seguindo uma tendência cada vez mais comum em empresas de tecnologias voltadas ao usuário final – operar debaixo do mesmo chapéu a fabricação do hardware e do software. Controlar a experiência.
A Apple já adota essa estratégia faz tempo. A Google promete seguir caminho parecido. Após a compra da divisão mobile da Motorola em 2011, a empresa de busca deve entrar na fabricação de hardware. Cogita-se que em breve também anuncie o lançamento de um tablet.
Não é à toa, portanto, que o setor de hardware é o mais novo a passar pelo efeito de disrupção. As diversas startups de hardware que o digam.
Um outro detalhe para encerrar. O que o Surface pode fazer a médio prazo é colocar a Microsoft ainda mais no mercado de segunda tela. O lançamento do SmartGlass para Xbox 360, na semana passada, durante a E3, foi justamente sobre isso – a dobradinha segunda tela e Microsoft.
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