Se existe algo que vem marcando as empresas de jornalismo no exterior em 2012, é uma crescente cultura decisória orientada por dados – “data-driven culture“.
Ou seja, cada vez mais, as decisões são apoiadas por estatísticas.
É um movimento bem maior do que ficar o dia inteiro olhando para planilhas geradas pelo Google Analytics e outros serviços de mensuração da audiência. Envolve um processo constante e progressivo de armazenamento e tratamento de dados, assim como – e principalmente – uma mudança profunda de mentalidade na hora de tomar decisões editoriais.
Na realidade, essa cultura não é nova. Empresas ligadas ao setor de TI, como Google, Amazon e Zynga, adotam-na há bastante tempo. Na Google qualquer ideia por mais genial que seja tem que ser justificada com dados. A análise em tempo real de dados é utilizada pela Amazon para posicionar e definir preços de produtos. Na Zynga, a “cultura de dados” é tão intensa que quem trabalha no nível decisório da empresa de games tem a sensação de estar numa financeira.
Nesta semana, tivemos dois exemplos dessa crescente cultura no setor de jornalismo. Primeiro, a Forbes inaugurou a sua nova home, que foi projetada com o apoio de uma startup focada justamente na análise de dados.
Depois, reportagem do Guardian mostrou como a análise de dados vem ajudando o Financial Times a tomar decisões editoriais e de desenvolvimento de produtos.
O interessante no campo do jornalismo é que essa “cultura de dados” chegou primeiro no nível operacional – nas redações, com a ideia de utilizar visualizações de dados, análise de banco de dados e a realização de “hackathons“.
Agora essa cultura está indo para níveis hierárquicos superiores das empresas. Cada vez mais, as decisões estratégicas e editoriais tendem a ser mais racionais. Forbes e Financial Times vêm demonstrando na prática.
Isso está acontecendo por diversas razões. Uma delas é econômica. Depois da crise de 2008, as empresas de jornalismo no exterior estão trabalhando com recursos mais escassos. A outra razão é mais profunda. É resultado de um processo histórico na gestão, que se acentuou nos anos 80 (após a crise de 1981 nos EUA), de maior valorização das decisões racionais. O líder que tomava decisões com base na intuição dá lugar a uma maior racionalidade na gestão de negócios.
A intuição perde espaço para ferramentas de Business Intelligence (BI) e BSC, que trabalham orientadas em dados e no uso de indicadores de desempenho.
O setor de jornalismo não poderia ficar de fora dessa movimentação histórica na gestão de negócios. Na hora de tomar decisão, há uma valorização progressiva dos fatos e das evidências nas empresas de jornalismo.
Neste ponto, acredito que o ideal seja buscar um meio-termo – um equilíbrio entre intuição e racionalidade. Dados são uma e não a única perspectiva.
Contudo, a cada dia fica mais evidente que essa “cultura de dados” impulsionada por um processo de maior racionalidade na gestão é um caminho sem volta. Hoje em dia, as decisões não precisam ser necessariamente consensuais, mas têm que ser sempre justificadas (com dados).
Uma “data-driven culture” impõe muitas mudanças numa empresa de jornalismo. As decisões deixam de ser personalizadas e as ações passam a ser pró-ativas em vez de reativas. A área de TI (infra e desenvolvimento) passa a ter um papel bem mais relevante, pois é ela quem vai gerar, mesclar e analisar muito dos dados que apoiarão o processo de decisões editoriais.
Não é à toa, portanto, que publicações como Guardian, NYTimes e Financial Times passaram a tratar as suas áreas de TI como estratégicas (de geração valor) e não simplesmente como um departamento operacional ou de apoio.
É uma mudança e tanto para um conjunto de empresas de jornalismo que até outro dia achava que o seu negócio era apenas fazer “jornal de papel”.
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