Se a gente fosse fazer uma lista das 10 habilidades que as pessoas mais gostariam de desenvolver, é quase certo que estaria presente a capacidade de se adaptar a mudanças, resistir a adversidades, saber cair, se levantar e seguir em frente. Quanto a empresas, então, nem se fala. Imagine uma empresa flexível a crises, que tenha o superpoder de cair, conseguir se adaptar e voltar com tudo ao mercado?
Resiliência parece ser para poucos. Mas, segundo Andrew Zolli, diretor geral da Pop!Tech, uma das principais conferências mundiais sobre ciência e tecnologia, saber cair e se levantar e resistir a disrupções não é, na realidade, nenhum super-poder. É algo que todos podem desenvolver – pessoas, comunidades e empresas. Ser resiliente está ligado a hábitos mentais.
Graças às novas tecnologias de comunicação (celulares, biotecnologia, sensores), podemos ser mais resistentes às adversidades.
Da economia à biologia, os sistemas mais resistentes são justamente aqueles que trabalham com poderosos e eficientes mecanismos de feedback. Ou seja, entendem o que está acontecendo debaixo do nariz.
As novas tecnologias de comunicação fornecem acesso a uma quantidade e qualidade de dados que permite termos uma noção melhor do que acontece a nossa volta.
Por exemplo, os dados gerados por diversos sensores biométricos embutidos em aparelhos móveis e carregados junto aos usuários podem fornecer um feedback mais preciso a respeito de nossa saúde.
As empresas, por sua vez, podem ter um retorno bem melhor do ambiente externo por meio das informações oriundas das plataformas de redes sociais.
O tempo todo estamos rodeados de mecanismos de feedback. O simples painel de um carro é um sistema deste tipo – fornece em tempo real informações sobre o estado do veículo. Quanto melhores e mais focadas forem essa mensagens, potencialmente conduziremos melhor o veículo.
Para o diretor da Pop!Tech, resiliência é umas principais questões do nosso disruptivo século 21. É uma mentalidade que nos fará mais preparados para as inevitáveis mudanças, presentes e futuras.
O negócio não é ir contra as transformações, mas saber navegar por elas. Ou você mitiga os riscos ou se adapta a eles. Em outras palavras – se você não consegue controlar a volatilidade do “mar de modificações”, a melhor coisa é construir “botes aprimorados”. Desenhar e redesenhar organizações e instituições para que possam absorver adequadamente mudanças e operar sob uma variedade maior de condições, fluindo sem dificuldades de uma circunstância a outra.
Segundo Zolli (foto abaixo), compreender a importância disso nos faz entender melhor porque algumas empresas, comunidades e pessoas conseguem resistir a diversos problemas e outras não. No livro Resilience, Zolli, ao lado da jornalista Ann Marie Healy mostra o porquê disso acontecer.
A realidade é que comunidades e empresas que, sob diversas circunstâncias, conseguem preservar a integridade e os objetivos têm algumas características em comum. Além de trabalhar muito bem com mecanismos de feedback, elas possuem:
Modularidade – Sistemas modulares são mais resistentes à diversidade. A internet é o melhor exemplo disso. A rede surgiu para ser uma plataforma de comunicação que se mantivesse intacta mesmo no caso de guerras e desastres naturais. A estrutura modular da internet permite que isso aconteça. Grupos terroristas também são perenes, pois adotam uma arquitetura de módulos.
Redes informais – Comunidades e empresas que possuem e levam em consideração as “redes informais” também são mais resilientes. Em geral, soluções para problemas em empresas e comunidades surgem justamente as “redes informais” e não em esforços impostos de cima para baixo.
Sistemas complementares – Da Suíça vem um exemplo econômico de que os sistemas que possuem estruturas latentes, prontas para entrar em ação em caso de um imprevisto, são mais resilientes.
Nos anos 30, na Suíça, foi criada a WIR, uma moeda paralela à oficial do país, o franco suíço. A moeda foi criada como uma forma de minimizar crises. Durante recessões, por exemplo, o volume de negócios feitos com a WIR cresce exponencialmente, reduzindo assim os impactos negativos do desemprego e a queda nas vendas com a moeda oficial.
Na crise financeira de 2008, o “sistema monetário paralelo” suíço entrou em ação, garantindo uma maior estabilidade econômica do país.
Diversidade cognitiva – Do exército americano vem a lição trazida por Zolli de que as organizações que têm uma diversidade cognitiva são mais resilientes.
Desde 2003, as forças armadas nos EUA trabalham com a dinâmica de Red Team, processo de trabalho e estudos que trabalha com diversas disciplinas e visões de mundo. A intenção é que os estrategistas do exército consigam ver um desafio de vários ângulos. Essa dinâmica foi criada após o 11 de Setembro.
Essa diversidade tem um custo para o exército americano. Você gasta um tempo considerável até harmonizar esses pessoas multidisciplinares dentro de uma equipe. Entretanto, ganha uma resiliência maior.
Visão holística – Os sistemas mais resilientes pesquisados por Zolli caracterizam-se por seus integrantes pensarem de forma holística. Isto é, pensam no todo. Dessa forma, evitam fortalecer a resistência em somente uma parte do sistema. Dessa forma, impedem que o sistema seja resiliente a perigos conhecidos, mas pouco preparado para ameaças não conhecidas.
O interessante do livro de Zolli está no fato de que o autor passeia por várias áreas – biologia, arquitetura, gestão – e estudos históricos para mostrar como funciona a capacidade de resistência às adversidades.
O diretor da Pop!Tech resgata uma pesquisa de 1968 que aponta que a habilidade de poder controlar o próprio ego – adiar gratificações presentes em troca de objetivos futuros – garante a resiliência pessoal. E o mais importante – acreditar que as suas ações têm significado faz você ficar mais resistente.
Não é à toa que, em geral, pessoas que possuem fé religiosa apresentam uma grande capacidade de resistência a problemas. Elas acreditam que as experiências positivas e negativas podem guiar para crescimento e aprendizado maiores; creem que podem influenciar (por meio da oração) eventos e pessoas; têm a certeza de que cada pessoa tem uma missão importante aqui, na Terra.
Livros sobre resiliência existem vários. A propósito, resiliência está virando o termo da moda (você já deve ter ouvido falar; eu mesmo já peguei o termo várias vezes em artigos do MIT).
Entretanto, no livro de Zolli, a habilidade é apresentada como algo menos ligado à força e mais em ter uma cultura diversificada e trabalhar de forma precisa com mecanismos de feedback (não é somente sobre gerenciamento de crise, mas inovação).
Para Zolli, resiliência será o grande motor das novidades nas próximas décadas, responsável por redesenhar nossas organizações para que possam absorver melhor mudanças e operar sob uma variedade maior de condições.
Segundo o pesquisador, resiliência não é uma “bala de prata”, mas uma mentalidade a ser constantemente atualizada, que nos levará a uma sociedade mais próspera e preparada para as inevitáveis adversidades que o futuro nos prepara.
Nem preciso dizer que a mensagem do livro é para lá de otimista.





Deixe um comentário