HTML5 como forma de burlar a Apple

O Kindle, da Amazon, é um daqueles produtos que tem como estratégia tirar proveito de uma das principais características da internet – ser “device agnostic“. Ou seja, a possibilidade de acesso por meio de praticamente qualquer dispositivo – celular, laptops, tablets, carros.

Com o sistema Kindle, você pode acessar e ler um ebook praticamente de qualquer dispositivo – a partir do próprio leitor/dispositivo Kindle, do computador, celular e tablets (via aplicativos).

Essa dinâmica do Kindle ficou ameaçada há duas semanas, quando a Apple forçou a Amazon a remover de seus aplicativos links externos para a compra de livros. A intenção era fazer com que toda compra via aplicativo do Kindle passasse pelo sistema de pagamentos da Apple, o que lhe garantiria uma comissão de 30% em cada venda de ebook.

Nesta semana, a Amazon lançou o Kindle Cloud Reader, versão em HTML5 do Kindle, que roda no próprio navegador e dispensa a instalação de aplicativos ou a passagem pela loja de aplicativos da Apple. O Kindle Cloud Reader emula as funções mais importantes existentes no atual aplicativo do Kindle para celular e tablet.

O lançamento é noticiado como uma resposta da Amazon à Apple.

Na verdade, o Kindle Cloud Reader faz parte de um movimento maior – de tratar os aplicativos em HTML5 não como ponto de partida, mas consequência de uma estratégia de cortar intermediários e ganhar mais autonomia.

O Financial Times foi um dos primeiros a cortar a intermediação da Apple. Lançou em junho uma versão em HTML5 de seu site, voltada para tablets.

A criação da versão em HTML era quase irresistível. Hoje o jornal ganhou mais autonomia – pode fazer vendas das assinaturas diretamente, evitando assim a intermediação da App Store e os consequentes 30% de comissão. Além disso, a publicação conseguiu uma logística melhor de desenvolvimento. Segundo Stephen Pinches, gerente de produtos do FT, era quase impossível desenvolver um aplicativo separado para cada dispositivo.

Da mesma forma, a Playboy americana lançou o iPlayboy, versão em HTML5 de seu site, voltada para iPad, na qual é possível ler a revista sem precisar passar pela App Store. O site de vídeos Vudu já migrou o seu aplicativo para uma versão HTML.

O site de livros Kobo promete seguir caminho parecido ao lançar um novo aplicativo.

Apesar desse cenário, parece que a migração não está preocupando muito a Apple – os aplicativos com maior faturamento na App Store são os de games, que dificilmente migrarão para uma versão em HTML.

O lançamento do Kindle Cloud Reader e de outros aplicativos em HTML5 são um exemplo de como o mercado encontra soluções para que a web mantenha algumas de suas características – ter baixas barreiras de entradas e gerar autonomia tanto para empresas quanto pessoas.

 Veja também: Hulu entende que o futuro é “device agnostic”

Comments

Não sei até quando os games vão continuar de fora do HTML5, o próprio Angry Birds tem sua versão feita exclusivamente nesta tecnologia (http://chrome.angrybirds.com/). Talvez a Apple devesse sim começar a se preocupar com a pancada que vem pela mão que ela própria fazia questão de enaltecer quando ainda brigava contra o flash…

Fabio says:

Apple é pra trouxa! E digo mais, já fez muito mais do que a MS qdo foi acusada de monopolio. Logo logo descascam essa maça…

A Apple fez a coisa certa, independente de algumas coisas estarem se voltando contra ela. Promover o markup e não uma linguagem proprietária faz bem à web.

Era um movimento natural, achei até que demorou um pouco pra começar. Não há muito sentido entre fazer um esforço grande pra criar um aplicativo que só roda em uma plataforma (por mais maravilhosa que seja), sendo que podia rodar em qualquer lugar, via web.

Tiago, muito bom o seu blog. O Gustavo Mini me recomendou e estou contente de saber que existem blogs como o seu o Brasil. Sou jornalista e moro em Londres, terminando o meu mestrado em Digital Media. Minha tese tem como base data visualization, e o Gustavo comentou que você chegou a escrever sobre isso. Bem bom o conteúdo.
Parabéns!

Tiago Dória says:

Obrigado, Diana.

Seja bem vinda ao blog 🙂

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