O que podemos aprender com o sucesso do Circa

Sempre que a gente gosta de alguma coisa, acabamos por tentar entender como ela funciona e por que desperta tanto interesse. É assim com música: como esse timbre de guitarra foi obtido? Por que essa harmonia nesse trecho? Com livros: por que quem escreveu lançou mão de uma ordem não cronológica? Por que essa entrada no capítulo?

E o mesmo se dá, naturalmente, com aplicativos.

Neste sentido, procurei entender por que o Circa, aplicativo que segue tão bem o conceito de ‘mobile news’, é um produto tão elogiado.

É lógico que não há uma resposta única e conclusiva, mas um conjunto de fatores explica o seu sucesso.

1) Preocupação com o “contexto de uso”
Diferente de outros aplicativos exclusivos de notícias, no Circa há uma grande preocupação com o que os profissionais de UX chamam de “environmental context“, ou seja, o contexto em que o aplicativo é usado.

Geralmente, as pessoas leem notícias no celular quando se encontram no caminho de casa para o trabalho, quando estão no metrô ou no ônibus, ou numa fila ou sala esperando uma consulta, reunião ou compromisso.

Ou seja, um contexto bem diferente de ler notícias no desktop, quando você está com as mãos livres, fixo num lugar, sentado e com a atenção menos disputada.

Por esse motivo, o Circa não oferece resumos nem longos artigos de uma única vez, mas fragmentação. Apoiado no conceito de flashcards, o aplicativo quebra um artigo em vários elementos – fotos, citações e estatísticas – que são fornecidos a cada movimento do dedo na tela do celular. Perfeito para quem está em movimento e, ao mesmo tempo, atento ao instante para descer na próxima estação ou de ser chamado numa fila.

Ou seja, uma proposta diferente da maioria dos aplicativos de notícias que fornecem um texto completo, de uma única vez (na maioria das vezes, estruturado para leitura no desktop) ou um resumo muitas vezes insuficiente de uma notícia.

O Circa é pensado também para o usuário de metrô e de ônibus.

Quem usa cotidianamente algum transporte coletivo entenderá o que estou comentado: muitas vezes, você precisa se segurar nas barras de segurança e dificilmente utilizará um aplicativo que o obrigue a manter as duas mãos coladas no celular, dando scroll nos textos e pinch nas fotos.

2) Cuidado com o back-end
Em geral, no desenvolvimento de aplicativos de notícias existe uma preocupação grande com o front-end e pouco com o back-end. O Circa tenta equilibrar essa questão. Aliás, no back-end reside muito do seu segredo.

O aplicativo trabalha com um CMS próprio que está em desenvolvimento constante, o que configura um diferencial. Neste tipo de negócio, os CMS precisam estar em permanente desenvolvimento para poder acompanhar as constantes mudanças no mercado de mídia. O Circa não usa uma solução fechada com começo, meio e fim, comum no mercado de notícias.

E mais: esse CMS exclusivo do aplicativo dá apoio à dinâmica de divulgar em fragmentos, diferente do tradicional processo em que um artigo inteiro é publicado/produzido do começo ao fim.

Em vez de um grande campo com espaço para escrever o texto e título da matéria, no CMS os editores do Circa adicionam pequenos pedaços de informações a uma história maior. Lembra muito a dinâmica de publicação da Wikipedia, onde um verbete está sempre em produção.

3) Notificações como homepage
Não é somente a Apple que trata as “notificações como a nova homepage” (vide o novo iOS), o Circa também trabalha com essa dinâmica. As notificações têm um papel importante. O aplicativo opera com um sistema de alertas que pode ser ativado a cada nova história. Sempre que uma nova informação é adicionada a uma história em desenvolvimento, o sistema envia uma notificação.

Existe também a opção de ativar apenas as notificações de “breaking news”. Você recebe somente alertas de notícias muito importantes. É como aquela chamada do “plantão do telejornal” que interrompe a programação em curso, porém adaptada a uma época em que cada pessoa anda com um celular no bolso.

//texto publicado originalmente em inglês, em maio de 2014