Hackathons não são somente para desenvolvedores

Em alguns blogs,  está acontecendo uma discussão bem interessante sobre a relevância dos hackathons. O debate é importante: hackathons são parte essencial das empresas com o DNA 100% digital.

De alguns anos para cá, as “maratonas de programação” viraram febre. Empresas, governos, universidades e até igrejas promovem os encontros nos quais desenvolvedores passam de 1 a 2 dias engendrando novos produtos ou resolvendo problemas de sistemas.

É justamente nessa popularidade crescente que reside uma das principais críticas aos hackathons, chamados também de Codefest ou Codejam. A reclamação é que esse tipo de evento se desvirtuou – tornou-se simplesmente uma muleta para empresas promoverem suas API’s ou para os departamentos de marketing colarem junto à imprensa o conceito de que seus clientes são “inovadores”.

Realmente, a crítica é válida. Com a popularização, vem, muitas vezes, a banalização. Há muito hackathon que é mais um evento de marketing do que de desenvolvimento: um meio para empresas criarem, de forma oportunista, uma imagem de inovação para acionistas e imprensa. Entretanto, é preciso separar o joio do trigo. Há muita coisa boa sendo feita.

Outra crítica, esta capitaneada pelo desenvolvedor veterano Dave Winer, é a de que os hackathons são um desserviço, pois tratam de forma superficial o desenvolvimento de software. Segundo Winer, em menos de 24 horas, você não consegue produzir nada decente. Um bom produto demanda tempo, tentativas com erros e acertos, e vários testes com os usuários.

Já participei de diversas formas de “maratonas de programação” no Brasil e nos EUA: como olheiro e palpiteiro, desenvolvedor (sim, voltei a programar todos os dias!), cobrindo para um veículo ou como gerente de produtos. E confesso a vocês, o principal problema dos hackathons é outro: ainda carregar a imagem de que são eventos somente para programadores.

A palavra hackathon ainda assusta gente leiga no assunto. A maioria associa o termo a um encontro tecnológico fechado, exclusivo para quem tem habilidades técnicas, enquanto que o espírito de curiosidade e aprendizado de um não-desenvolvedor pode ser de grande valia neste tipo de evento.

Não é à toa que as “maratonas de programação” que vão além da tecnologia, reunindo pessoas das áreas de negócios, conteúdo, medicina têm um nível diferente de troca de experiências. A confirmação dessa premissa vem da OpenGovFoundation, organização que promove a transparência digital de governos aqui, nos EUA, e organiza hackathons nos lugares mais diferenciados do país.

E, justamente, ao deixar um pouco de lado o aspecto puramente tecnológico, que podemos notar a importância dos hackathons: eles são, antes de tudo, uma poderosa ferramenta de educação. Durante um hackathon, você tem a rara oportunidade de vivenciar um dos melhores processos de aprendizagem: ser aluno e professor ao mesmo tempo (the protege effect). Você aprende e ensina neste tipo de evento.

E é associado a esse processo que vêm os outros aspectos conhecidos de um hackathon: servir como combustível para inovação e redes de contato – fazer coisas que normalmente você não faria e ganhar conhecimento fora da sua zona de conforto.

Enfim, apesar do caráter sempre competitivo de uma maratona, você nunca sai de mãos vazias de um hackathon. E isso se acentua quando conseguem se descolar da imagem de evento exclusivo para desenvolvedores.