Sobre o fim do Orkut

Interessante a notícia de que o Google encerrará as operações do Orkut no final de setembro. A decisão diz muito sobre onde estamos.

O Orkut teve um papel importante na “inclusão digital” de diversas pessoas na Índia e no Brasil. Para muitos, a rede social foi a primeira porta de entrada para internet.

Era comum ouvir histórias de pessoas que “queriam comprar pela primeira vez um computador para poder acessar o Orkut” ou que resolveram frequentar as lanhouses porque “elas permitiam acessar o Orkut”.

A propósito, as lanhouses e o Orkut são um exemplo de como o mercado de internet encontra, por conta própria, soluções para os seus problemas.

Enquanto pseudoespecialistas em inclusão digital e governos discutiam porque 1+1=2, o Orkut e as lanhouses assumiram e seguiram em frente com o seu papel inesperado de realizar a inclusão digital de diversos brasileiros.

Hoje em dia, o WhatsApp vem realizando o mesmo movimento que o Orkut protagonizou há 5 anos. Em nações em desenvolvimento, o aplicativo de troca de mensagens vem servindo como “desculpa” para pessoas migrarem de um celular comum para um smartphone: “Quero comprar um smartphone para poder usar o WhatsApp”.

Desse modo, uma vez mais, vemos uma tecnologia alavancando o uso da outra. Para quem trabalha com consumo de tecnologia e mídia, é importante estar atento a essa dinâmica no mercado de internet.

Uma questão preocupante em relação ao fim do Orkut é sobre quem salvará a memória da rede social. Nas comunidades do Orkut, existe um farto material sobre o Brasil e a Índia: discussões políticas e morais, questões pessoais, reclamações contra empresas, sugestão de produtos. É um raro retrato produzido de baixo para cima sobre um momento específico das duas nações.

Está certo que o Google liberou o conteúdo das comunidades públicas para quem quiser baixar e salvar, mas alguma biblioteca deveria se responsabilizar por realizar um arquivamento mais estruturado desse conteúdo. Aqui, nos EUA, por exemplo, a Biblioteca do Congresso assumiu o papel de arquivar parte dos tweets mais importantes publicados entre 2006 e 2010. Ademais, no MIT, existem diversos projetos de arquivar e agregar conteúdo das redes sociais. Mas… e no Brasil?

A decisão de desligar o Orkut não foi nenhuma surpresa. Nos bastidores, já se falava dessa possibilidade. Na parte de produtos, o Google está passando por mudanças.

Foi um veredicto inteligente por parte da empresa de busca. Afinal de contas, nos últimos anos, as redes sociais migraram do desktop/web para ferramentas baseadas em dispositivos (WhatsApp, Vine, Snapchat). Hoje são esses serviços que dão as cartas no mercado de plataformas de redes sociais.