Prefácio da 3ª edição de Webwriting

Essa é uma das coisas que mais tenho orgulho. Fui convidado por Bruno Rodrigues para escrever um prefácio para a terceira edição do seu livro Webwriting (lançado neste mês), o primeiro em língua portuguesa sobre redação e informação para web.

Lembro que a primeira vez que tive contato com a obra foi em 2000, ainda na primeira edição. Logo tornou-se uma referência para mim. Achei sensacional e valioso. Finalmente, um livro em português para auxiliar no que ainda era feito meio que às cegas e tateando na época.

De lá para cá o tempo passou, mas o básico permaneceu: a importância da palavra e do capricho na produção de conteúdo sob medida para a internet.

Essa preocupação dá o tema do livro de Rodrigues, o qual mistura conceitos de escrita com arquitetura da informação, usabilidade e marketing.

Webwriting é uma leitura fundamental e que sempre recomendo para quem está entrando no mercado de comunicação digital ou já faz parte dele, mas quer  aprimorar e rever conceitos e técnicas.

Conforme comento no texto que abre a 3ª edição:

“O livro não é apenas sobre como escrever na web ou como a internet vem se tornando onipresente e afetando o dia a dia do profissional de comunicação, mas é, sobretudo, a respeito da relação ‘homem-computador’, que se reflete no binômio ‘texto digital-usuário’, dissecado de forma brilhante por Rodrigues.

Nesse contexto maior e mais preciso, Webwriting faz parte de um movimento que busca colocar o ‘ser humano’ no centro da experiência digital por meio do entendimento da interação ‘homem-dispositivos digitais’. Para um profissional de comunicação atuante, é mais do que essencial entender essa interação”.

Detalhes de Webwriting, que também conta com uma versão digital, podem ser encontrados na página da editora Atlas.

Notificações são a nova homepage

Dois anos atrás, o investidor Fred Wilson afirmou que era preciso estar atento às notificações dos dispositivos móveis. Elas teriam o poder de mudar o mercado.

Hoje é quase impossível não concordar com ele.

Num primeiro momento, as notificações foram subestimadas pela indústria. Enquanto todo mundo estava de olho nas chamadas linhas do tempo (timelines) e nos feeds de notícias, elas passavam a fazer cada vez mais parte de nossas vidas.

As notificações móveis estão agora em todo lugar. Na verdade, são a nova homepage: a primeira coisa que você checa quando acorda de manhã. Elas indicam qual aplicativo você deve abrir em seguida. Mostram qual acontecimento é mais importante no momento. Qual o próximo compromisso na agenda. Elas colocam as pessoas em uma experiência mais contextual com os seus hub sociais.

As notificações são um dos atuais principais tópicos para se explorar e estudar na área móvel. Outro assunto diz respeito ao fluxo de uso: Como os usuários se movem entre os aplicativos? Qual é o primeiro aplicativo aberto logo de manhã?

O setor móvel está entrando num fase mais avançada. E a cada dia que passa a gente aprende mais sobre esse campo.

//Texto publicado originalmente em inglês, em março de 2014.

2013 => 2014 tendências de cultura digital

Fazer previsões é sempre complicado e pretensioso. Mas, ao mesmo tempo, é importante monitorar certas tendências de cultura digital. Seguem algumas coisas que chamaram a atenção em 2013. Esses movimentos continuarão em 2014: as coisas não acontecem tão rápido quanto parece. Por isso, é interessante acompanhar a evolução deles.

1. APIs pessoais e públicas
Com a crescente tendência de mensurar a vida pessoal (o quanto praticou de exercício, comeu, trabalhou, assistiu TV), o conceito de ter uma API pessoal e pública voltou em 2013. Faz sentido ter uma série de regras a respeito de como as pessoas e os softwares podem nos contatar? Sim, principalmente se levarmos em conta que grande parte do atual fluxo de informação acontece na camada de infraestrutura da internet. Imagine a situação: num futuro próximo, em encontros, almoços e conferências, não trocaremos mais cartões de negócios, mas APIs. Na realidade, hoje algumas pessoas da área acadêmica já fazem isso com APIs onde é possível acessar toda a produção acadêmica de um pesquisador.

2. Smartphones como dispositivos contextuais
Em 2013, as tecnologias móveis mudaram completamente a utilização da internet. A tendência continuará firme neste ano. Smartphones consolidaram a sua posição como novo hub social (feito de diversos aplicativos fragmentados). Não é à toa que um dos temas mais quentes para se estudar na atualidade diz respeito a saber como as pessoas se movimentam entre os aplicativos: As pessoas saltam direto do de emails para o de foto? Qual o primeiro que abrem ao acordar?

No último ano, os smartphones também começaram a ser reconhecidos como “dispositivos contextuais”: com sensores embutidos em sua tecnologia, são capazes de fornecer uma experiência mais contextual do que laptops e desktops.

3. Impressão 3D integrada a outras tecnologias e conceitos
Impressão 3D é como a tecnologia de dados: insignificante se não estiver integrada a outras. Até 2012, era somente uma “moda nerd”. Entretanto, em 2013, a impressão 3D associou-se a outras tecnologias, indústrias e conceitos. Essa integração trouxe mais importância social e econômica para a impressão 3D. Um exemplo é a premiada startup EyeNetra de Boston, que utiliza a impressão 3D como uma forma de acelerar o seu processo de inovação. A impressão 3D é responsável, por exemplo, pela produção de protótipos de tecnologia óptica em apenas duas semanas.

4. Caminho entre trabalho e casa virou um período de compartilhamento e conexão com outras pessoas
É cada vez mais comum incluir tecnologia no caminho entre o trabalho e a moradia. Circa, Hour of Code e o Waze são alguns aplicativos que exploram essa realidade. Na verdade, é algo ligado a uma outra movimentação. Em  cidades de países desenvolvidos, as pessoas estão dirigindo menos e usando mais bicicletas, metrôs e ônibus, e, ao mesmo tempo, estão mais engajadas com tecnologias durante o trajeto entre o trabalho e a casa.

5. Imigração extremamente ligada ao setor de tecnologia
A inovação na área de tecnologia está fortemente ligada à questão da imigração nos EUA. Ou, para ser mais direto, historicamente a economia americana é guiada por inovação e imigração. Em 2013, essa ideia ficou mais intensa ainda quando empresas de tecnologia da informação, como Google e Facebook, começaram a se envolver diretamente no debate sobre a reforma das leis americanas de imigração.

6. Governos também utilizando as capacidades da internet
Talvez 2013 seja lembrado como o ano em que as pessoas finalmente se deram conta de que os governos podem utilizar a internet para tirar as suas próprias vantagens. Chama a atenção que poucos pensaram a respeito disso: a internet é uma ferramenta que foi desenvolvida e projetada por uma agência governamental. Logo – não digo que isso está correto – mas faz sentido pensar que governos utilizem-na, em especial o seu poder de vigilância. Lembre-se que tudo o que trafega na internet fica registrado em sua camada de infraestrutura e de que vigilância é uma das capacidades mais singulares e poderosas da internet.

7. Mapas como fonte de informação contextual
A guerra das empresas de tecnologia por “informação contextual” ganhou espaço nos últimos anos. Um exemplo é a batalha Apple Maps vs. Google Apps. Em 2013, a Apple lançou o seu próprio serviço de mapas no desktop. Essa movimentação deixou claro que o embate entre as duas empresas não é sobre mapas, mas “informação contextual”. A Apple sabe que a localização é um tipo de dado que tornou-se imprescindível na hora de elaborar uma experiência contextual. Seguramente, ainda veremos mais sobre essa batalha por “informação contextual”.

//texto publicado originalmente em inglês, em dezembro de 2013.

2014 será um grande ano para o jornalismo

Pode soar um pouco estranho num momento de tanto pessimismo no setor, mas 2014 promete ser um ano melhor para o jornalismo.

Vou explicar o porquê: investidores estão mais abertos à ideia de injetar dinheiro em startups de jornalismo. Até o começo de 2013 isso era difícil. Hoje, o cenário começa a mudar.

Entretanto, é importante notar que, em geral, esses investidores estão buscando startups que tenham uma espécie de “two side business” e não sigam o tradicional modelo de receita por meio da exibição de publicidade.

Em adição a essa nova postura dos investidores, algumas startups de jornalismo estão, por conta própria, encontrando no crowdfunding um meio inovador de monetizar as suas operações. Ou seja, mais receita/crédito para empresas de pequeno porte.

O fato é que esse movimento de empreendendorismo está ligado a outra movimentação no mercado: a fuga de talentos em grandes empresas de jornalismo.

Está certo que empreender não é para qualquer um – é trabalhoso, é arriscado, é desgastante emocional e fisicamente. Contudo, cada vez mais, profissionais saem dessas empresas para montar seus próprios negócios (Bill Keller foi o último a dar adeus para o tradicional NYTimes).

Por esses motivos, vou ao encontro da ideia de que 2014 será um ano mais “saudável” para o jornalismo, principalmente para os profissionais ousados e empreendedores.

//texto originalmente publicado em inglês, em janeiro de 2014.

Tecnologia se tornará imprevisível

A escalabilidade é por si só uma das mais importantes inovações na área de tecnologia. O conceito permeia quase tudo que, hoje em dia, consumimos em termos de tecnologia digital – plataformas de rede sociais, celulares, games. Entretanto, é algo que está com os dias contatos e os efeitos prometem ser disruptivos: a tecnologia se tornará imprevisível, as vantagens competitivas das empresas de tecnologias terão que mudar junto com a formação dos tecnólogos, que necessitará ser cada vez mais interdisciplinar.

A base dessa visão está na constatação de que a chamada Lei de Moore, um dos princípios da escalabilidade e na qual a indústria de tecnologia tem se pautado nas últimas décadas, ficará obsoleta daqui a 7 anos, em 2020.

Segundo a teoria, o número de componentes nos chips dobra a cada 18 meses. Em outras palavras, a cada ano e meio, produtos com chips tendem a ficar cada vez mais baratos e melhores.

Nos últimos três meses, aqui, em Boston, tivemos uma série de palestras e workshops com especialistas no assunto. O debate não é novo, mas ele ganhou força com os recentes avanços na área de “wearable technologies“, como o desenvolvimento do Google Glass, e a aplicação em larga escala de nanotecnologia na área médica.

Tanto as “wearable technologies” quanto a nanotecnologia na área médica exigem um processo diferente de miniaturização e um ganho de processamento computacional que não são mais atendidos de forma satisfatória pela Lei de Moore.

Segundo Dennis Buss, um dos principais especialistas em indústria eletrônica (é da turma de 1963 do MIT) e vice presidente de tecnologia da Texas Instruments, a escalabilidade dos semicondutores (CMOS), base da Lei de Moore, trouxe benefícios enormes para a sociedade. Entretanto, tornou a tecnologia previsível demais. Todo mundo na indústria de tecnologia passou a trabalhar sabendo que a cada 18 meses tudo o que é baseado em chip tenderia a ficar mais barato e melhor.

Para Buss, um dos principais efeitos do fim da escalabilidade dos CMOS será justamente a mudança dessa lógica: a tecnologia passará a ser menos previsível e uniforme. E mais: a inovação estará bem mais voltada para as reais necessidades da sociedade (saúde, energia e segurança) do que em aumento de processamento/velocidade por si só.

Nas palavras do veterano do MIT, essa imprevisibilidade abrirá caminho para uma nova onda de inovação criativa semelhante a que aconteceu há mais de 30 anos quando a Lei de Moore foi concebida. Buss chama esse novo momento de “Accelerated Technology Innovation” (ATI).

Segundo ele, para que o alto desempenho associado ao baixo custo continue na indústria de processadores, mudanças também terão que acontecer na formação dos engenheiros, que precisarão ser bem mais interdisciplinares: entender como funcionam outros materiais e dominar princípios da biologia, fotônica e química polímera.

Do outro lado dos EUA, na Califórnia, na Universidade de Stanford, Robert Colwell, presidente da DARPA, agência americana de pesquisa e defesa onde nasceu a internet, também confirma que a Lei de Moore ruma para a derrocada. Entretanto, acredita que isso está acontecendo por motivos econômicos e não tanto físicos (seria impossível miniturizar ainda mais um bit, criando desse modo um choque da Lei de Moore com as leis físicas).

Para Colwell, a indústria de silício está cada vez mais cara e o retorno do dinheiro investido em alta performance e miniturização é cada vez menor. Em outras palavras, está cada vez mais difícil conseguir desempenho/performance dos CMOS proporcional ao dinheiro injetado em pesquisa para tal objetivo. Cada vez mais, os fabricantes têm dificuldade de continuar o crescimento vertiginoso no número de componentes nos chips.

Um dos novos processos que pode modificar esse cenário é o “More than Moore“, que se baseia no uso de novos materiais para o desenvolvimento da tecnologia dos semicondutores. Hidemi Takasu, presidente da ROHM, esteve recentemente no MIT apresentando a tecnologia. Nanoestruturas e Nanomateriais, mais finos que um fio de cabelo, são aplicados às atuais estruturas dos chips (CMOS). Robôs minúsculos que poderiam ser implantados em corpos humanos utilizariam essa tecnologia para evitar intervenções cirúrgicas em pessoas acometidas por alguma doença.

É interessante notar que, uma vez mais, o MIT e a Universidade de Stanford estão capitaneando essa revolução na indústria de eletrônica. Nos anos 60, professores das duas instituições foram pioneiros em publicar papers e criar uma comunidade para explicar e pesquisar como funcionavam os semicondutores.

Mas resumindo o que aconteceu nos últimos meses: ficou evidente nas recentes conversas que tivemos aqui que a escalabilidade de semicondutores com base na Lei de Moore não acabará. Na verdade, ela vem perdendo o “monopólio” da inovação tecnológica. A Lei de Moore por assim dizer está sendo complementada com outros processos, como o “More than Moore“. Novas materiais e designs estão encontrando a sua aplicação. Ainda não sabemos com precisão cirúrgica quais procedimentos permanecerão até 2020 nem que nome daremos para a fase atual da microeletrônica. Isso deixaremos para nossos filhos e netos rotularem.

A única certeza é que, assim como se dá com outros setores, a microeletrônica é uma indústria que está em profunda transição. E isso promete afetar várias coisas desde o joguinho que utilizamos no celular até o exame de ressonância feito no hospital.